sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Exílio Econômico

Olá, leitores!

Neste post, respondo (e desenvolvo) um comentário feito pelo Chico, um amigo meu de Petrópolis, RJ. Ele diz: "É interessante porque me dei conta que você é de fato a primeira geração de filhos dos 'exilados economicos', não é?"

Eu já estava querendo explicar aqui o meu raciocínio por usar a palavra "exílio" no nome do blog. Técnicamente falando, eu seria classificada como imigrante. A diferença entre a minha experiência e o estereótipo de "imigrante para os EUA" é que eu não sonhei em tentar a minha vida aqui... não fui eu quem fez a escolha de sair do Brasil. Também tem o fator de que eu já vim pra cá com cidadania americana (graças à minha vó, que nasceu aqui), então não sofrí a marginalização tão comum entre os imigrantes ilegais.

A princípio, eu ia dizer que me sentía exilada porque acabei construindo uma vida aqui, e agora já não tenho como voltar e sobreviver no Brasil. Afinal, ser antropóloga no Brasil é bem difícil. Também ia adicionar que existe um sentimento melancólico, que me faz ver o Brasil como a minha terra natal, pra onde não volto "pra sempre" tão cedo. É quase uma separação forçada pelas circunstâncias.

No entanto, a expressão que o Chico usou explicou muito melhor a minha situação. Na época da ditadura, os exilados brasileiros eram políticos. Agora, com a mudança dos tempos, o tipo de exílio também mudou. Agora é outro lance: exilado econômico!

Nossa mudança para os EUA foi extremamente influenciada pela situação econômica do Brasil, e pela situação financeira da minha família. Com a classe média do Brasil diminuindo, em meados dos anos 90, ficou difícil sobreviver. Ainda mais com um pai músico e uma mãe secretária. Daí surgiu a idéia de ir morar nos EUA, para garantir uma educação decente (e, consequentemente, um futuro decente) para os três filhos. Acho que é isso mesmo: sou a primeira geração de "exilados econômicos", pessoas que não conseguiram ganhar a vida no Brasil e acabaram indo morar no exterior. Nota-se a conotação de "estratégia de sobrevivência" dessa explicação. Imagino que a maioria de pessoas que entrariam nessa categoria de exilados econômicos fazem parte de uma classe média ou média-baixa que busca a educação e a oportunidade de trabalho como meta para os filhos e parentes.

O que tem de interessante nisso, então? Bem, o elemento de ruptura (de ser tirada de uma cultura e jogada em outra, aos 12 anos de idade) afetou muito a minha personalidade. Por isso sou assim, meio melancólica e sempre saudosa... vivendo, de propósito, como um peixe fora d'água. Me recuso a me adaptar, a ter a minha "alma" inteiramente aqui. De um certo modo, vivo um exílio eterno, que nenhum passeio de 2 meses pelo Brasil pode curar!

E vocês, o que acham? Concordam com a idéia de "exilados econômicos"? Existem outros tipos de exilados que não mencionamos aqui? Comentem!

Um comentário:

  1. Muito bem dito, creio que existam outros meios de ser exilado. Mas sem dúvida, nenhum deles é tão interessante e cheio de significações como o 'exilado economico', já que guarda em si essa ambiguidade entre exilio e imagração. Acho que diverge do exilado político porque é de alguma forma uma escolha (pelo simples fato de que ninguém os impediu EXPLICITAMENTE de permanecer no Brasil), porém não é só escolha, acho até que podemos ir um pouco além e chamar essa situação de 'exilio Moral', pois (como você mesmo diz no post) seus pais (MUITO COERENTEMENTE) não viram no Brasil um ambiente adequado para criar os filhos. Logo, a força maior que exilou a sua família tem dois lados, de um lado os princípios dos seus pais (que repito são mais do que compreensiveis, são louvaveis), do outro a situação socio-economica do Brasil que tornou forçosa a ida, ou seja, feriu os principios. Essa necessidade moral de ir embora do Brasil dá a vocês uma posição muito diferenciada, e possibilita esse saudosismo que você sente (creio eu), já que a sua relação com o país não foi diretamente estremecida. A banda Pato Fu tem uma música muito interessante que diz "Morro, eu vivo num morro, que quanto mais de longe mais bonito é de se ver. Morro, eu vivo num morro, que quanto mais de perto, mais dificil de se entender." .
    Acho que você tem sorte de poder gostar do Brasil, a gente vive num morro.

    ResponderExcluir